Nas últimas décadas, essa tarefa tem sido executada nas rodovias, algo que anda na contramão das economias já industrializadas, que priorizam o trem para transporte interno de longas distâncias, reservando os veículos em terra para pequenos trechos complementares. Estima-se que 10% do preço final dos grãos que chegam à mesa dos consumidores sejam representados por custos de transportes, devido à logística ineficaz.
É possível modificar esse panorama? Segundo um estudo coordenado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), não apenas é possível, como seria altamente compensador para o País. No entanto, essa mudança alavancaria um segundo desafio: como ampliar a utilização de ferrovias e, ao mesmo tempo, tornar essa modalidade de transporte mais sustentável, considerando os aspectos econômicos, sociais e ambientais?
Uma alternativa é a eletrificação da malha ferroviária, possibilitando que os trens passem a ser movidos por energia elétrica. Os benefícios gerados pela substituição disseminam-se por várias frentes: redução de emissões de poluentes, aumento da competitividade internacional com agilidade e maior segurança no transporte, além da redução de perdas, roubos e acidentes.
Ferrovias eletrificadas são ligadas a uma cadeia de sistemas que vão desde a produção da energia a ser utilizada pelas locomotivas, até os sistemas que transformam esta energia e a distribuem, o que pode oferecer diversos benefícios. Um deles é a possibilidade de que a ferrovia opte por gerar sua própria energia, ficando imune às variações externas de disponibilidade de energia e de preço, reduzindo os riscos relacionados ao suprimento de energia.
Outro ponto importante em relação à geração de energia é a possibilidade de que diferentes fontes sejam usadas, não apenas combustíveis fósseis, contribuindo para o uso de energia limpa ao longo da ferrovia. No aspecto social, esse modelo também cria a possibilidade de que a energia gerada para o funcionamento da ferrovia seja compartilhada com as populações locais. Também pode-se destacar que o acesso à energia elétrica para pequenas e médias cidades aumenta a atratividade para investimentos, gerando empregos mais qualificados e aumentando o conforto dos cidadãos locais.
Mas eletrificar ferrovias vai além de tornar o transporte de carga mais eficiente. Com as tecnologias de eletrificação de ferrovias, mais que transportar passageiros e cargas, as estruturas dessas vias podem levar também a rede de energia (transmissão elétrica e gasodutos), água, telecomunicações e internet. Com essa abordagem, as ferrovias assumem um papel mais amplo do que simplesmente o transporte de carga, tornando-se autênticos eixos sociais, ambientais e econômicos.
O custo para a construção de uma ferrovia eletrificada é maior que o de uma via férrea convencional, pois prevê investimentos na infraestrutura, como em geração, transmissão e distribuição de energia. No entanto, ele traz retorno socioeconômico, como na eficiência do transporte e acesso à energia elétrica para regiões remotas, além de criar atratividade a investidores, resultando em desenvolvimento local, inclusive na geração de empregos mais qualificados. E esse retorno deve ser levado em conta ao se fazer um investimento em novas ferrovias.
Vários projetos implantados na Europa com esse formato já foram aplicados e poderiam ser replicados no País. Uma inspiração para novos projetos na área ferroviária são as cidades. O transporte urbano brasileiro já dispõe de exemplos da utilização de tecnologia a favor de modelos de logística mais eficiente e sustentável, e a Siemens é um exemplo em tecnologias inovadoras para esse mercado.